Duas em cada três
O problema é maior nas principais capitais e afeta duas em cada três mulheres. Ali, 13,9% delas admitem ser totalmente sedentárias, segundo a pesquisa governamental Vigitel 2017. E 51,3% praticam atividade física insuficiente - ou seja, não alcançam os 150 minutos semanais de atividades de intensidade moderada ou 75 minutos semanais de atividades de intensidade vigorosa. "Trata-se de uma questão evolutiva. Nos primórdios, correr, andar muito, era uma questão de sobrevivência. Hoje, para onde se vai, se senta. É um risco que fica bem claro", diz a pesquisadora. Para Edison Mantovani, coordenador do Departamento de Mastologia do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), é importante observar que os casos de câncer de mama entre mulheres estão mais ligados à faixa etária pós-menopausa. É quando o desenvolvimento dos tumores deixa de estar ligado aos ovários e passa a ter relação com o tecido gorduroso. Nesse momento, devem ser incentivados os exercícios físicos. "E não é apenas caminhar. É atividade que queime gordura, que resulte em redução de peso." Estados brasileiros com melhores indicadores socioeconômicos apresentaram as maiores taxas de óbitos de câncer de mama atribuível à inatividade física - pela ordem, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. "Apesar de não aparecerem na lista, o Norte e o Nordeste também estão passando por uma transição de mortalidade, ou seja, aumentando o número de óbitos por doenças crônicas", afirma a diretora do Ministério da Saúde. "Na Amazônia, por exemplo, observamos que as pessoas estão deixando de comer açaí e mandioca no café da manhã, trocando por pão branco. Produtos industrializados estão tomando o lugar do peixe", exemplifica Fátima. O trabalho ainda indica que outros 6,5% de mortes poderiam ser evitados com controle de peso, dieta reduzida em açúcares e controle do consumo de álcool. Ainda faltaria, como aponta Mantovani, investigar melhor as correlações entre os demais fatores de risco. O estudo ainda não leva em consideração os diferentes tipos de tumor e as possibilidades de tratamento. "O mais importante, para redução da mortalidade, continua a ser o diagnóstico precoce." E faltaria considerar elementos do dia a dia (químicas e radiação, por exemplo) e história genética do paciente.Metas
O Ministério da Saúde afirma que já adotou metas internacionais contra o sedentarismo, incluindo deter o crescimento da obesidade na população adulta até 2019, reduzir o consumo regular de refrigerante e suco artificial em pelo menos 30% na população adulta e ampliar em no mínimo 17,8% o porcentual de adultos que consomem frutas e hortaliças regularmente até o mesmo ano. Também destacou que desde 2011 envia recursos para municípios instalarem academias públicas, o que teria resultado na criação de 3,8 mil polos habilitados. "E estamos incentivando nos polos de promoção da saúde dos municípios que o exercício físico integre as consultas regulares. Às vezes, as pessoas precisariam ir aos consultórios só para se exercitar", diz a diretora.Adesão
A prática regular de atividades físicas contribui não só na prevenção como na adesão ao tratamento de pacientes diagnosticados com câncer de mama. Submetidas a terapias agressivas, mulheres com tumores podem ter uma série de efeitos colaterais. "A atividade física ajuda na fadiga oncológica, no controle da dor, nos transtornos de humor e distúrbios de sono", explica Christina May Moran de Brito, chefe do serviço de reabilitação do Instituto do Câncer de São Paulo. Há ainda ganhos psicossociais. "É um ciclo virtuoso: quem faz exercício tende a se alimentar melhor, dormir melhor e se expor menos a hábitos nocivos." "Essa é a parte do tratamento que está nas mãos do paciente", diz Heloísa Veasey Rodrigues, oncologista do Hospital Albert Einstein. Para ela, é compreensível que os piores indicadores da associação entre sedentarismo e câncer de mama estejam nos Estados mais ricos. "Nosso estilo de vida moderno não favorece a prática de atividade física de maneira regular", diz. "Mas há medidas que podem ajudar, como descer no ponto de ônibus antes do que o de costume, subir escadas se você trabalha em prédio", exemplifica. Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), Antônio Frasson destaca os benefícios da prática esportiva, mas alerta para o acesso a exames. Estudo da SBM com a Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia mostrou que a cobertura mamográfica no País em 2017 foi de 24,1%, abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). "As pessoas têm dificuldades, as filas são longas", diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.