Impactos para a Comunidade
A não finalização do processo de titulação tem rendido impactos negativos à Comunidade. Além do impedimento de acesso à água e luz pelas 70 famílias ocupantes da área, o projeto de construção de uma agroindústria está paralisado desde maio deste ano. Isto porque a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB), ente do Estado responsável pelo acompanhamento do projeto, exige a apresentação de documentos de certificação da área pela Comunidade para compra de maquinário e materiais para construção do espaço de beneficiamento. Sem a apresentação de documento que garanta a permanência da Comunidade na área, as famílias correm o risco da não construção da agroindústria. A demora do processo de titulação tem impacto no acesso de tudo: terra, luz, agua, moradia, saneamento. Não podemos acessar nada e estamos lá há mais de três anos. Quem apostou tudo e tem família grande sofre bastante, há famílias que não conseguem ter renda nenhuma porque não pode produzir alimentos, relata o morador da Comunidade, Charles de Jesus Soares. Presente na reunião, a Promotora de Justiça e Coordenadora do Núcleo de Promoção e Defesa dos Povos e Comunidades Tradicionais do Ministério Público do Paraná (CAOPJDH), Ana Carolina Pinto Franceschi, complementa que o não acesso à terra, expresso no título da área, tem resultado no impedimento à demais direitos. Entendemos que a efetivação do direito ao território é um importante meio de efetivação de diversos outros direitos humanos das comunidades quilombolas, sendo que, desta maneira, a morosidade no processo de titulação da terra além de evidente violação de um direito humano fundamental (direito ao território) acarreta a dificuldade de acesso a políticas públicas e a não efetivação de diversos outros direitos também fundamentais, como o direito humano à alimentação adequada, o acesso à água e energia elétrica, etc, denuncia a promotora. Outro risco é o de despejo das famílias. No dia 15 de outubro a Cooperativa enviou um recurso para o Tribunal Regional da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre (RS). Com o recurso a empresa pretende despejar parte das famílias quilombolas. Isso, porque o Incra negocia a compra de cerca de 200 hectares, mas as famílias estão acampadas em cerca de 400 hectares. Quilombolas sustentam que a área que está sendo comprada é muito pequena, e não é suficiente para o sustento de todas as famílias. Por sua vez, a agrária diz que os outros duzentos hectares não estão, ainda em negociação e, por isso, quilombolas não poderiam ocupar essa outra área. O impasse só se resolveria com a titulação total dos 2,9 mil hectares, mas não há prazo para que isso ocorra. A ação desconsidera a certificação da Comunidade pela Fundação Cultural Palmares, em 2005, o reconhecimento da área pelo Incra e o Decreto presidencial de declaração da área como de interesse social, em outubro de 2014. Até mesmo o recurso para pagamento da área ao atual proprietário, tido como um dos principais obstáculos para a titulação, já é etapa vencida. O grande ponto de atrito costuma ser o pagamento do valor da área, e com ele depositado a gente não imaginava que a Agrárias ia colocar tantos obstáculos para fazer a lavra fazer a transferência e culminar na titulação da área, reflete a assessoria jurídica. O despejo significa para Comunidade ficar sem moradia, muitos dependem de lá. As pessoas da Comunidade estão pensando o que a gente vai fazer, pra onde a gente vai, e pensamos na gurizada, nos quilombolinhas, se o despejo acontecer despejo onde eles vão morar?, manifesta preocupação a moradora Jucimeri dos Santos. No próximo dia 03 de dezembro será realizada, em Curitiba, pela Juíza Federal Silvia Regina Salau Brollo, audiência de tentativa de conciliação na ação de reintegração de posse. Se espera que seja possível chegar a um acordo para a permanência das famílias quilombolas nas terras que, por direito constitucional, lhes pertencem.