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104 anos - Ondina Marques: Uma centenária sábia e feliz

31 de janeiro de 2019
A repórter Nara Coelho teve o privilegio de entrevistar a senhora Ondina Pinheiro Marques, que nasceu na antiga Rondinha no século passado, quando Pinhão era distrito de Guarapuava, pois ela nasceu no dia 1º de novembro de 1915, completou 104 anos em 2018, é provavelmente a moradora mais antiga de Reserva do Iguaçu.

SERENIDADE E ALEGRIA

Encontramos a centenária sentada na varanda de sua casa, onde mora com a filha Maria Aparecida Marques, que contou que até os 100 anos ela cuidava da casa e fazia o almoço, que só parou de fazer porque há três anos sofreu um AVC e ficou com dificuldade de andar. Mesmo assim, não se entrega, e é só descuidar que a mãe vai sozinha no quintal olhar as plantinhas.

UMA LUCIDEZ QUE ENCANTA

 A primeira coisa que encanta em Dona Ondina é que ela é lúcida, tem um raciocínio ligeiro. Sobre qual seu segredo para chegar aos 104 anos, ela responde que é alimentação sem veneno, “Nós plantávamos e nós colhíamos tudo fresquinho, e sem nenhum veneno, hoje tudo que comemos tem veneno, inclusive a água, é muito triste”.

UMA VIDA NA FAZENDA FUNDÃO

Quanto à sua idade, ela responde brincando, que é uma menina, “Estou com 104 anos, mas sou uma menina ainda (risada), mas estou à disposição de Deus quando, eles acha que devo, eu vou”. E com essa alegria e simplicidade dona Ondina foi conversando e contando sua vida. Ela é filha de escrava liberta da Fazenda Fundão, Olivia Ferreira Pinheiro, por isso uma das herdeiras da dona Balbina. Seu pai, Brasil Pinheiro, era bugre, que foi laçado e segundo dona Ondina, foi criado pela família Lustosa, que na época se assinava Pinheiro. Ela conta que lá morou até que foram expulsos. “Das herdeiras sou a mais velha das que estão vivas, eu fiz uma casa lá e tenho uma filha que mora lá. Eu adoro ir lá ficar olhando tudo aquilo, ver os passarinhos, eu amo aquele lugar, lá nasci e me criei”, contou animada, mas com um olhar saudoso. Aqueles não foram tempos fáceis, mas, se a vida era sofrida, ela responde com um sorriso. “Não, a vida não foi sofrida, era boa, a gente plantava o que a gente comia, era tudo comida boa sem veneno, o que faltava os vizinhos trocavam ou cediam e assim nós também repartíamos o que tínhamos a mais”. Era tudo na enxadinha, não tinha nem veneno nem maquinário. “Mas a vida era boa e não era difícil”, faz questão de frisar a centenária.

ELA FINCOU O PÉ E NÃO SAIU

Dona Ondina contou que as brincadeiras eram no quintal, “Nós brincávamos no quintal de roda, peteca, mas sempre na vista dos adultos e anoitecia a mãe já nos recolhia, ela dizia o dia é das crianças, a noite é dos bichos”. Ela vai conversando “Quando deu a confusão lá no Fundão, até porque não tinha muito como plantar, cuidar dos bichos, muitos foram embora, mas eu fiquei”.

TUDO VIROU CINZA

Sem nenhuma tristeza, ela conta que só saiu da fazenda Fundão quando colocaram fogo em sua casa. “Eu fui levar o almoço para os filhos maiores que estavam na roça e quando voltei a casa e o paiol estavam tudo queimado, fiquei danada”. Depois ela morou um tempo na casa de uns amigos. “Fui arrumando um serviço ali, outro acolá, sempre de enxada, e fui criando meus filhos, mas sempre por aqui”.

UMA MENINA DETERMINA

Casou com catorze anos com um primo, Olimpio Batista Marques, que os pais dela criaram até os treze anos, depois ele foi embora e voltou aos 18 anos. “Meu pai morreu e fomos morar com um tio, ele queria me casar com um homem, mas eu disse que com aquele eu não casa, sempre fui brava, briguenta, eu achava que ele não era um bom homem, porque além de ser trabalhador tem que ser um bom homem. Aí recebi um recado do meu primo que ele queria casar comigo e casei com ele porque sabia que ele era um bom homem, e nós nunca brigamos”.

UMA MÃE ACIMA DE TUDO

Ela teve quinze filhos em casa, nasceram pelas mãos da avó, já que a  parteira na época era sua mãe. Inclusive em dois partos teve gêmeos. Dos quinze, três são falecidos, hoje uns moram em Curitiba, outros em Santa Catarina, mas aparecem de vez em quando para ver a mãe. A senhora Ondina já perdeu a conta dos netos, bisnetos e tataranetos que tem, na verdade, alguns tataranetos já são pais. Na sua festa de aniversário de 104 anos dez filhos estiveram presentes. Ela conta com orgulho que nunca levou os filhos no médico,  “Remédio era da horta ou do mato, nunca levei um filho no médico, tratava com remédios caseiros e sarava, fosse doença ou machucadura”. Ela ficou viúva por volta dos 46 anos, e, se casou de novo, ela responde ligeiro: “Não!!!! Eu tinha meus filhos, eu achava um marido, mas meus filhos não achavam um pai”.

CROIOU TODOS OS FILHOS COM O CABO DA ENCHADA

Ela vai contanto que sempre levou os filhos juntos, “Eu nunca tive medo do trabalho e sempre mantive meus filhos por perto, eu ia para roça, eles iam comigo, os que podiam ajudar ajudavam, os que não, ficavam brincando, mas onde a minha vista alcançava”. “Criei todos e todos deram gente, não tiveram muito estudo porque na época não era coisa fácil de se encontrar por essas bandas”, completa.

TUDO ERA REPARTIDO

Para a centenária hoje a vida é mais difícil, “A vida não era difícil, era boa, tudo era crioulo, feijão, milho, criação, leite, tudo criado no terreiro, pobre tinha tudo, o que não tinha trocava com os vizinhos e agora, se não tiver dinheiro, não come”.

A SUSTENTAÇÃO VEM DA FÉ

Dona Ondina tem no pescoço uma corrente com Nossa Senhora e diz, “Graças Deus sou devota de Nossa Senhora, sempre rezávamos muito, a devoção é importante, a fé é tudo, ela que nos segura. Uns filhos meus são católicos, outros crentes, mas o que importa é ter fé e viver de verdade a igreja, seja evangélica ou a católica”.

HOJE FALTA RESPEITO

Para ela o mundo piorou. “No meu tempo tinha respeito, agora não”. E dá um recado para quem quer viver bem. “O segredo da vida é o respeito, quando as pessoas respeitam os mais velhos, todas as outras pessoas, ela nâo se mete em confusão, o respeito é tudo na vida.

SEGREDO DO CASAMENTO

E essa historia de casar e separar não está certa. “Para o casamento dar certo tem que haver respeito. O homem não pode ser malandro, e tem que trabalhar, mulher tem que ser de bem, sempre conversar, saber tratar um do outro. Com o respeito vai fazer sempre dar certo”.
PB Agência Web