Não bastavam os já tantos benefícios do aleitamento materno dos bebês, mais um motivo deve encorajar mães e pais a o adotarem por mais tempo: pela primeira vez um estudo conseguiu estabelecer relações entre a amamentação prolongada e os índices de QI, escolaridade e renda média. O trabalho conclui que crianças que ingerem leite materno por até 12 meses têm rendimentos melhores em todos os fatores.
O trabalho liderado pelo epidemiologista Cesar Victora por seu estudo, demonstra que bebês cuja alimentação é baseada no leite materno até os 12 meses apresentam, aos 30 anos de idade:
O pesquisador cita também outros mecanismos ligados ao microbioma do bebê em estágio de amamentação, como os recentes estudos que ligam a função do intestino de sintetizar substâncias que ativam o cérebro, como a serotonina, as citoquinas e outros metabolitos.
No artigo “As tentadoras ligações entre micróbios intestinais e o cérebro [tradução livre]”, publicado na revista Nature, o microbiólogo Rob Knight, da Universidade da Califórnia, diz que “pistas sobre os mecanismos pelos quais micróbios intestinais interagem com o cérebro estão começando a emergir, mas ninguém ainda sabe o quão importante são esses processos no desenvolvimento humano e sua saúde”.
Amamentação salva vidas
Desde a década de 1980, o aleitamento materno mais prolongado tem sido recomendado como forma de combater a mortalidade infantil e a contaminação por doenças infecciosas. A partir de um estudo publicado em 1987 pelo epidemiologista brasileiro, agências internacionais como a Organização da Saúde e a Unicef passaram a recomendar o aleitamento exclusivo durante os primeiros seis meses de vida - o trabalho concluiu que tal procedimento reduzia em 14 vezes o risco de óbito por diarreia e em 3,6 vezes o risco de morte por infecções respiratórias.
“O aleitamento materno reduz a mortalidade infantil por meio de três mecanismos. Primeiro, o leite humano contém uma quantidade enorme de substâncias com propriedades imunológicas e antimicrobianas que protegem o bebê contra infecções. Segundo, o leite materno é estéril e a administração de outros leites através de mamadeira está sujeita a contaminação do próprio leite e da água, e da mamadeira e do bico. Isso é particularmente perigoso em populações pobres em más condições de higiene. Terceiro, o leite materno promove o estado nutricional ideal da crianças pequena, e crianças bem nutridas são mais resistentes a infecções”, explica Victora.
Em trabalho posterior, que monitorou 11 mil crianças de 1982 a 2006 (infância à vida adulta), o professor da Universidade Federal de Pelotas concluiu que para diminuir fatores de risco de doenças crônicas na vida adulta, deve-se priorizar as intervenções nutricionais nos primeiros mil dias, ou seja, desde o início da gestação até o segundo ano de vida.
O que mãe e pai podem fazer?
O aleitamento de recém-nascidos é uma responsabilidade não apenas das mães, mas dos pais também. Mais que isso, é uma tarefa de toda a sociedade. “Poucas categorias têm seis meses de licença maternidade no Brasil, enquanto que em países escandinavos a regra é de um ano de afastamento”, lamenta o pesquisador.
Uma forma de tornar a amamentação materna viável é promover a coleta do leite durante o horário de trabalho e armazená-lo em geladeira para que a criança receba no dia seguinte. “Isso depende que a empresa facilite a coleta e o armazenamento. É preciso de um apoio da sociedade e das empresas”, recomenda Victora.
Hoje, a OMS e a Unicef recomendam dieta exclusiva de leite materno para bebês até os seis meses, sem nenhum outro tipo de líquido ou alimento. A partir desta idade, o aleitamento não supre mais todas as necessidades do bebê, sendo, portanto, recomendada a manutenção do leite como alimento prioritário junto à ingestão de de frutas, verduras e até proteína animal.
De acordo com as orientações dessas entidades, a amamentação deve seguir até os dois anos de vida da criança.
Bebês saudáveis