por Dartagnan da Silva Zanela (*)
Para sermos uma boa companhia, em nossa jornada por esse vale de lágrimas, é imprescindível que aprendamos a caminhar sozinhos.
Precisamos aprender a estar a sós conosco mesmo, para permitirmos que a voz profunda da nossa consciência nos fale.
E ela nos fala, o tempo todo, de modo franco e insistente, mas nós, de forma obstinada, continuamos fazendo ouvidos moucos, ignorando o eco da sua voz, porque temos medo de ficar a sós com ela, na intimidade do nosso coração.
Tememos a fala trovejante da nossa consciência, porque nos borramos só de pensar no que ela irá nos falar.
Trememos diante da possibilidade de termos de ouvir, calados, todas as verdades que procuramos, todo santo dia, nos esquivar.
Como bem nos adverte São João Crisóstomo, é próprio do inimigo criar maquinações mil, distrações mil, para nos afastar da verdade.
E nós, mal aconselhados que somos pelo medo, acabamos muitas vezes nos abraçando com a mentira, fantasiada com argumentos maliciosos, que repetimos para nós mesmos, para não termos que olhar para o óbvio ululante.
E a ululante obviedade é que nós tememos a verdade porque não sabemos ficar a sós. O nosso amor-próprio nos impede de vê-la e de amá-la.
Por isso, para sermos uma boa companhia, temos que aprender a caminhar com a verdade e, desta forma, permitir que nossa peregrinação neste mundo de pó e sombras nos transubstancie, tornando nossa personalidade agradável aos Céus; para que nossa peregrinação por esse mundão de Deus nos transubstancie em sal da terra, luz do mundo, conforme nos foi dito por Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Enfim, não temamos o silêncio, não tenhamos medo da solidão, porque é nela que Deus nos fala amorosamente, sussurrando o nosso nome na intimidade do nosso coração.
(*) professor, escrevinhador e bebedor de café. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas. Autor de "A Bacia de Pilatos", entre outros livros.