Existe um vínculo estreito entre educação e cooperação. O ato de ensinar alguém vai muito além de transmitir conhecimento, pois consiste numa troca de experiências entre pessoas. Ou seja: ambos saem fortalecidos. Só que, durante a pandemia, esse tipo de relação vem enfrentando toda sorte de desafios. É sobre isso que vamos refletir hoje.
O papel da escola não se restringe apenas a passar conteúdo programático. Na sala de aula, os alunos também têm contato com colegas de sua idade, além dos próprios professores.
Essa interação com várias pessoas é essencial para um indivíduo aprender a conviver com as diferenças e a construir objetivos em comum com os outros. Cada trabalho em grupo, por exemplo, pode ser uma oportunidade para compartilhar conhecimento, buscar soluções inovadoras para os problemas e, assim, garantir o aprendizado de todos, fazendo a turma inteira progredir.
Em outras palavras, o educandário acaba se tornando um espaço de cooperação. Trata-se de um treino para a vida em sociedade, onde todo cidadão deve trabalhar e cumprir regras visando contribuir com um futuro melhor.
Não é de se admirar que o cooperativismo valorize tanto a educação. Ela atua como base para o desenvolvimento social, um dos pilares do movimento. Imagine só: sem diálogo entre os associados e sem troca de ideias, a busca por qualificação ficaria mais difícil. E, sem qualificação, os resultados do trabalho seriam piores — freando o desenvolvimento econômico da comunidade.
Portanto, é imprescindível pensar numa educação para cooperação. Quando damos a devida importância à coletividade desde a base, as novas gerações ficam mais preparadas para os desafios do futuro.
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Ocorre que até os projetos pedagógicos mais avançados tiveram de ser repensados a partir de 2020. Com a pandemia da Covid-19, impôs-se a necessidade do isolamento social. Isso levou ao fechamento das escolas e a uma reestruturação importante das relações de ensino e aprendizagem.
De repente a casa virou sala de aula. Em vez de interação face a face com os colegas, troca de mensagens pela internet. Como garantir educação de qualidade nessas condições?
O impacto inicial foi grande. A Unesco estima que 81,9% dos estudantes da Educação Básica tenham deixado de frequentar as instituições de ensino no Brasil. Esse percentual equivale a 39 milhões de pessoas.
Parte da desistência diz respeito às dificuldades de acesso ao ensino remoto. Afinal, vivemos num país em que 29% dos lares não têm internet, de acordo com a pesquisa TIC Domicílios, realizada pelo Centro Regional de Estudos para Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) em 2019.
Vale lembrar que, mesmo com conexão à rede, muitas vezes os usuários contam com pacotes limitados de dados. E ainda tem quem compartilhe o mesmo computador ou celular com outros membros da família. Dessa forma, o tempo para se dedicar aos deveres diminui.
As escolas vêm encontrando maneiras para driblar os entraves tecnológicos. Uma das soluções consiste em enviar tarefas impressas para os alunos realizarem em casa. Mas aí a educação para a cooperação fica em segundo plano. No lugar de colaboração e troca de ideias, prioriza-se um ensino conteudista, focado apenas em contemplar os programas básicos das disciplinas.
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Uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas, conduzida nos primeiros meses da pandemia com mais de 14 mil professores, aponta alguns efeitos negativos do distanciamento social para a educação. Dos respondentes, 49,7% disseram que o rendimento dos jovens diminuiu, se comparado ao desempenho nas aulas presenciais.
Outro dado destaca a saúde mental dos estudantes. Os casos de ansiedade e depressão aumentaram – pelo menos na impressão de 53,8% dos educadores.
Porém o estudo também traz alento. Com a suspensão das atividades presenciais, notou-se um fortalecimento na relação escola-família. É que os pais tiveram de estar mais presentes na orientação da aprendizagem, então passaram a entender melhor o tamanho do esforço envolvido para conduzir o andamento das aulas, prender a atenção dos alunos e auxiliá-los em caso de dúvida.
Resumindo, a experiência serve para reforçar a importância da escola na vida das crianças e dos adolescentes. A figura do professor passou a ser mais valorizada. Enquanto isso, as instituições seguem readequando os métodos de avaliação e de ensino para oferecer a melhor educação possível dentro das limitações que o momento exige.
A grande questão é não perder de vista o espírito cooperativo dos educandários. Num processo tentativo, de erros e acertos, todos estão aprendendo a se adequar aos tempos atuais. Por isso, a partilha de informações é essencial para que possamos sair mais fortes da pandemia.